Você sabia que trabalhar 8h por dia não é o mesmo que produzir 8h por dia?

É bem sabido que na nossa Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso XIII, inclui, entre os direitos dos trabalhadores, a “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”. Além do mais, o inciso XIV prevê a “jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva”.

Ocorre que em meio a um período intenso pandêmico, muitos espaços de trabalho precisaram se adaptar. Tivemos várias edições de Medidas Provisórias com redução de jornada e suspensão de horário de trabalho. Nesse intervalo, penso que permitiu ao trabalhador avaliar o ritmo de suas vidas.

Voltando um pouco, com a edição da reforma da CLT, o cenário trabalhista brasileiro já dava margem para um rearranjo nas relações, com a possibilidade, inclusive, de trabalho em tempo parcial – texto que posso trazer em um outro momento.

Todo esse ajuste somado ao período de pandemia, trouxe à tona uma clara e já evidente diferenciação: JORNADA DE TRABALHO x PRODUTIVIDADE!

Fazendo uma rápida pesquisa, deparei-me com um artigo em que constata exatamente isso. Separei abaixo alguns trechos para demonstrar que há pesquisas que explicam um pouco mais sobre isso. Segue abaixo:

(…)Pesquisadores estão mostrando não apenas que o trabalho que produzimos no final de uma jornada de 14 horas é de pior qualidade em comparação com o que fazemos quando estamos descansados. Esse padrão de trabalho também prejudica nossa criatividade e nossa cognição. Com o tempo, pode nos fazer sentir fisicamente doentes – e até, ironicamente, dar a sensação de vivermos sem propósito.

Pense em um trabalho mental como se fossem flexões, diz Josh Davis, autor de Two Awesome Hours (As Duas Horas Incríveis, em inglês). Digamos que você queira fazer 10 mil flexões. A maneira mais “eficiente” seria fazer todas de uma vez, sem pausa. Sabemos instintivamente, porém, que isso é impossível. Em vez disso, se fizéssemos apenas algumas de cada vez, entre outras atividades e ao longo de semanas, atingir esta meta seria mais viável.

“O cérebro é muito parecido com um músculo nesse sentido”, escreve Davis. “Em condições erradas e com trabalho constante, realizamos pouco. Com as condições certas, há poucas coisas que não somos capazes de fazer.”

Fazendo uma abordagem mais neurocientífica, descobrimos que nosso cérebro possui momentos em que produzimos bem mais, é o chamado estado de FLOW.

Em resumo, é um estado mental que acontece quando uma pessoa realiza uma atividade e se sente totalmente absorvida em uma sensação de energia, prazer e foco total no que está fazendo. Em essência, o flow é caracterizado pela imersão completa no que se faz, e por uma consequente perda do sentido de espaço e tempo”.

Ademais, existem aspectos mais técnicos que a própria neurociência propõe às organizações. Abaixo elenquei alguns que podem ser facilitadores para essa autodisciplina, vejamos:

a) Focalize os períodos de descanso com sua equipe: estimule seus colaboradores a fazerem intervalos de descanso durante o expediente. A medida ajuda na melhoria da concentração e na restauração da disposição para o desempenho das tarefas;

b) Tenha recursos para a redução do estresse na empresa: Ou seja, no estresse, a produtividade diminui, aumentam os equívocos e a dificuldade de raciocinar. Assim, é fundamental estabelecer estratégias para minimizar o estresse no empreendimento. Lembre-se: momentos de estresse, o corpo entra no estado de luta ou fuga.

c) Cuidado com a multitarefa: realizar várias tarefas aumenta o estresse e com isso haverá uma perda de foco repentina de forma bem gradual.  Portanto, é importante ter foco para resolver tarefas mais complexas, melhorando a produtividade, sem deixar de entregar demandas menores.

d) Quebre atividades longas em blocos: Quando o cérebro se depara com tarefas muito longas para serem cumpridas, ele ativa os centros de dor, o que nos leva a procrastinar. A melhor forma de enfrentar o problema é dividir o trabalho em vários blocos que possam ser cumpridos em períodos de produção ininterrupta. Deixe que seu cérebro respire! Assim ele obedecerá melhor seus comandos.

e) Utilize listas e checklists: montar listas pode potencializar a produtividade. Quando você tem um grande número de tarefas para cumprir, o cérebro emprega muitos esforços para se lembrar de tudo. Ao colocar as atividades em listas, você reduz a sobrecarga no cérebro.

Portanto, você gestor, atente-se para a exaustão de seus colaboradores. A Lei deve ser parâmetro de norte para as relações trabalhistas, contudo, não deve ser determinante de produtividade. Quanto mais satisfeito seu colaborador estiver, mais produtividade sua empresa terá!

Referências Bibliográficas:

https://blog.alelo.com.br/gestao/o-que-a-neurociencia-tem-a-ver-com-a-produtividade-no-trabalho/
https://www.tst.jus.br/jornada-de-trabalho
https://epocanegocios.globo.com/Carreira