Suicídio e Trabalho: Precisamos Falar Sobre isso | Marta Barradas
Quando falamos de saúde mental, muito se fala de questões individuais e pouco se fala de questões sociais e – também, portanto – do trabalho.

Vivemos numa sociedade na qual o trabalho é fundamental. É através do trabalho que garantimos nossa sobrevivência. É através do trabalho – infelizmente não como ferramenta de transformação do mundo, mas de produtividade – que somos socialmente valorizados. E é através do trabalho, também, que muitos de nós transformamos e construímos nossas identidades.

Estar excluído do trabalho é estar à margem de uma sociedade que deposita seu valor naquilo e no quanto você produz – em valores econômicos, apenas.

Quem trabalha, portanto, trabalha muitas vezes sob a angústia da possibilidade de perder seu emprego – seu sustento, seu valor social, ferir parte de sua identidade. Quem não tem emprego tem ainda mais medo: de não aparecer outro bico, de não ter o pagamento garantido.

Esse medo faz com que nos submetamos a condições de trabalho que não nos fazem bem. Isso é mais grave para pessoas de baixa renda, que tem menos opções de escolha e para quem as consequências de perder uma “oportunidade” são muito mais graves – mas é fácil pensar também em categorias consideradas mais privilegiadas que sofrem intensamente com isso, como programadores, designers, publicitários e bancários.

Aceitamos horas extras sem pagamento, trabalhos aos finais de semana. Aceitamos sobrecargas que nos roubam convívio social e espaço para o fortalecimento de outros aspectos de nossa vida, que nos deixam exaustos e fragilizados. Aceitamos, por vezes, até mesmo humilhações, agressões – ou mesmo passarmos por cima de nossa ética – aceitamos, ou aturamos assédio moral.

Passamos a ver nossos colegas e outros profissionais da nossa área como competidores – visão muitas vezes disseminada já nas faculdades e até mesmo nas escolas – pois podem “roubar nossa vaga”, o que reduz oportunidades de compartilharmos experiências, aprendizagens, de nos apoiarmos e confiarmos uns nos outros. Isso produz sensações de isolamento e de permanente desconfiança e tensão, além de, novamente, nos forçarmos a constantemente ignorarmos nossos limites para nos demonstrarmos importantes, úteis e necessários aos nossos locais de trabalho.

Em locais nos quais a produção é medida por equipe, passamos a ser vigias e carrascos uns dos outros, temendo que o mal desempenho de um colega nos afete.  Acima de tudo, essa competitividade exacerbada dificulta ou impede que nos unamos para lutar contra trabalhos massacrantes.

Nesse cenário, trabalhos que poderiam nos dar prazer e orgulho, vão, por vezes, perdendo seu sabor. A vida se torna acelerada, cansativa, solitária e sem sentido. Somada a uma cultura que exalta a excelência e o valor por produção e que atribui resultados a fatores individuais, como personalidade e capacidade, nos sentimos fracos, incapazes, inadequados.

Foto: portedoree.blogspot.com.br

Fadigados pela sobrecarga, pela tensão, desconfiança, solidão e angústia, nós ficamos vulneráveis para o adoecimento mental. Não é à toa que os índices desse tipo de adoecimento só têm crescido, bem como os afastamentos do trabalho por questões de saúde mental.

Se o índice de tentativa de suicídios é maior em alguns tipos de trabalho, categorias e vínculos trabalhistas (terceirizados, trabalhos informais), por que ainda falhamos em ver suas relações com o trabalho?

Precisamos começar a falar sobre isso para que possamos compreender e transformar essas situações produtoras de tanto sofrimento. Para que possamos reconhecer as armadilhas nas quais somos colocados e procurarmos caminhos para nos livrarmos delas. Para que compreendamos que não estamos adoecendo por sermos fracos, incapazes ou inadequados – mas porque nossos trabalhos estão sendo pensados e feitos de modo a nos prejudicar. Para que possamos nos unir e lutar por outras condições sociais, por outros modos de trabalhar. Para que pessoas possam ter outras saídas desses cenários que não a morte.

Se você está percebendo que seu trabalho está te gerando sofrimento, procure ajuda.

Prevenção ao Suicídio
CVV Brasil 141
0800 290 0024

Você pode também, é claro, procurar psicólogos clínicos, mas preste atenção na maneira com a qual eles encaram o trabalho: como um aspecto menos relevante do que fatores individuais ou como um elemento importante no seu adoecimento?

Você não precisa enfrentar esse problema sozinho (a).

 


Marta Barradas
é Psicóloga, formada pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) com ênfase em Psicologia Organizacional e do Trabalho e Clínica . Experiência em multinacionais, atuando na área de recrutamento e seleção . Atuação também no mercado como orientadora de Carreira, e idealizadora do Projeto Jovem&Job. 

---------- ATENÇÃO: Essa vaga é de responsabilidade do anunciante. Fique atento para possíveis golpes. Se perceber algo suspeito, nos comunique através do e-mail floromauel@gmail.com colocando no título "Themos Vagas - Denúncia" juntamente com o link da publicação e o motivo da denúncia na descrição da mensagem para que possamos analisar e parar de divulgar o anúncio. ----------